Povo Guarani Mbya retoma área porque a Funai não conclui o procedimento demarcatório de sua terra

A terra Arroio do Conde é reivindicada pelos Guarani Mbya há muitas décadas. Ela está localizada nos municípios de Guaíba e Eldorado do Sul, cidades que fazem parte da "Grande Porto Alegre", ou seja, nas proximidades da capital do Estado. Sobre a área foram planejados, pelo Governo do Estado, muitos empreendimentos industriais e, além disso, pesa sobre a terra fortes interesses imobiliários.
As famílias, lideradas pelo cacique José, vivem há décadas acampadas nas margens da BR-116 no município de Guaíba-RS. Lutam incansavelmente pela demarcação de suas terras, no entanto, os poderes públicos, especialmente a Funai (Fundação Nacional do Índio) agem com negligência e morosidade. Em função do descaso dos órgãos governamentais centenas de famílias são obrigadas a conviver diariamente com a falta de condições básicas e com a insegurança em acampamentos provisórios.
À beira de rodovias, crianças, mulheres e homens Guarani Mbya resistem ao abandono e à ausência de políticas públicas assistenciais e de proteção. Sem terra, sem água potável e sem lugar para o plantio eles vivem de doações, cestas básicas e do pouco que arrecadam com a venda de seus artesanatos, situação que contraria os direitos constitucionais e as premissas de convenções internacionais, tal como a 169 da OIT.
Essa realidade de sofrimento e insegurança se agrava com as iniciativas do Governo Federal em duplicar as estradas federais, o que impacta diretamente a vida de quem aguarda os procedimentos demarcatórios, sem outro lugar além dos barrancos à beira de estradas. As famílias estão apreensivas, uma vez que as suas terras tradicionais estão sob o domínio de fazendeiros, empresários de indústrias, loteamentos, cidades ou áreas ambientais. A maioria das terras tradicionais dos Guarani Mbya estão sendo ocupadas e gradativamente devastadas.
A Funai, depois de muitas mobilizações das comunidades indígenas, criou os Grupos de Trabalhos para proceder aos estudos de identificação e delimitação de algumas terras Guarani, no entanto, os procedimentos se arrastam por anos e aos indígenas não são dadas explicações ou justificativas acerca da demora. De acordo com o Cacique José, a retomada foi a única alternativa que lhes restou para ingressar nas áreas sobre as quais há comprovação de tradicionalidade. Ao ocupar a terra, eles chamam a atenção do órgão indigenista e da opinião pública para esta insustentável situação.
Cansados de viver no abandono e de modo improvisado, os Guarani Mbya exigem que seja garantido seu direito de viver em seus tekohás, lugares próprios nos quais se pode viver conforme seus modelos e projetos de vida. Eles esperam, das instâncias responsáveis, o rigoroso cumprimento de suas responsabilidades e dos preceitos constitucionais, ou seja, o que eles desejam é que se faça justiça!
Porto Alegre, RS, 23 de março de 2013.
Cimi Sul Equipe Porto Alegre
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